Armas foram encontradas em uma casa no Paraguai, durante a Operação Turfe Foto: Divulgação / Polícia Federal
RIO — A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira, duas grandes operações no Rio contra o tráfico internacional de drogas. Policiais têm como objetivo cumprir, ao todo, 39 mandados de prisão e 47 de busca e apreensão em cinco estados e em três países. As ações foram chamadas de Turfe, que até o meio-dia prendeu 12 pessoas, e de Brutium, esta com 9 presos. Fora do Brasil, foram quatro prisões na Espanha.
Para estocar as drogas trazidas de países da América Latina e que posteriormente seriam levadas para os portos da Europa — em especial de Barcelona e Valência e depois enviados para outros países daquele continente, traficantes da maior facção criminosa do Rio guardavam os entorpecentes na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na Zona Norte. Nos pelo menos 18 meses de investigação, os agentes identificaram os integrantes da quadrilha. A Polícia Federal descobriu ainda que bandidos montaram uma grande logística para trazer da Colômbia e Bolívia as drogas e que usavam de casas de câmbio para lavarem o dinheiro.
No ano passado, de acordo com a Polícia espanhola, nove pessoas foram presas nos portos de Barcelona e Valência na retirada das drogas.
Ao menos dois blindados do Comando de Operações Táticas (COT) foram utilizados na Vila Cruzeiro. Quando os policiais chegaram ao local, houve um intenso tiroteio, segundo moradores. Na última sexta-feira (11), uma operação da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal na região terminou com oito mortos em confronto — todos eram criminosos, de acordo com a polícia.
Por conta da ação na Vila Cruzeiro nesta terça-feira, 15 unidades escolares da rede municipal no Complexo da Penha foram fechadas e só vão oferecer atendimento remoto.
Só na operação Brutium, os agentes descobriram que os contrabandistas movimentaram R$ 250 milhões nos últimos 15 meses. Para evitar terem as mercadorias apreendidas, eles fracionavam as drogas e elas eram trazidas para o Brasil em carros e caminhões. A PF descobriu também que, por conta da repressão em outros portos do país, a quadrilha migrou para o Rio.
— Conseguimos fazer toda a rota desses criminosos. Também identificamos como era o armazenamento e logo em seguida o embarque das drogas para a Europa — destacou o delegada da Polícia Federal Heliel Martins, responsável pela investigação da Brutium.
Da mesma forma, investigados da Operação Turfe faziam com as drogas. Investigados desde setembro de 2020, a PF destaca que o grupo “era extremamente complexo” para a logística e o despacho das drogas.
De acordo com a Receita Federal, a droga era inserida em contêineres que eram exportados a partir do Porto do Rio, utilizando-se da prática conhecida como "rip-on rip-off", que consiste em utilizar uma exportação legal para enviar a droga ao exterior. A PF garante que não há participação de agentes do Porto do Rio no esquema.
Notas falsas
Nesta terça, os agentes encontraram R$ 900 mil em notas falsas em uma casa em Campinas, em São Paulo. Ainda em São Paulo, as equipes encontram milhares de reais, euros e dólares em uma casa de câmbio. Já no Paraguai, a Operação Turfe apreendeu carros e joias, além de dinheiro.
Segundo os investigadores, em dois anos de investigações, a PF apreendeu pelo menos 10 toneladas de cocaína e bloqueou quase R$ 15 milhões dos traficantes.
Mais violência: Novo caso de feminicídio abala Nova Friburgo uma semana após polêmico julgamento que teve pena branda
Todos os mandados foram expedidos pela 5ª e pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio. A PF tem o apoio do Ministério Público Federal (MPF), com a Drug Enforcement Administration (DEA) — a agência antidrogas dos Estados Unidos — e com a Europol.
Agentes encontraram R$ 900 mil em notas falsas em uma casa em Campinas, em São Paulo. Foto: Divulgação / Polícia Federal
Operação Turfe
Batizada de Turfe, a ação busca cumprir 20 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão em cinco estados — Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso —, além de medidas de cooperação policial no Paraguai, na Espanha e em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O nome da operação faz referência a uma das formas de lavagem de capitais da organização criminosa, que é a aquisição e negociação de cavalos de corrida. O bando também fazia aposta em jóqueis.
Além disso, o grupo utilizava casas de câmbio para a lavagem do dinheiro.
— Há indícios que o grupo exporta drogas para a Europa há cerca de 10 anos. Eles mandavam para os Países Baixos (Península Ibérica) e de lá para outros destinos — informou o delegado Bruno Tavares, chefe da Delegacia de Repressão e Entorpecentes.
Em um ano e seis meses de investigações, a força-tarefa identificou uma quadrilha que trazia drogas da Bolívia e da Colômbia para o Rio, de onde o material era enviado para a Europa.
Ao longo da investigação, foram apreendidas mais de oito toneladas de cocaína, tanto no Brasil, quanto na Europa. Além disso, mais de R$ 11 milhões foram apreendidos dos criminosos.
Apreensão em casa de câmbio em São Paulo durante operação da Polícia Federal Foto: Divulgação / Polícia Federal
Operação Brutium
Já na Operação Brutium, os policiais federais buscam cumprir 19 mandados de prisão e 17 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Santa Catarina e em São Paulo. Em dois anos de investigações, a PF descobriu que a organização criminosa, identificada como No Limit Soldiers, aliou-se às duas maiores facções brasileiras para enviar cocaína da Bolívia e do Peru para a Europa. A No Limits Soldiers surgiu em Curaçao, no Caribe, e se expandiu para a América Central e para a Holanda. Com apoio da Drug Enforcement Administration (DEA) e das forças de segurança da França, do Marrocos, da Bélgica e da Espanha, a Polícia Federal apreendeu mais de duas toneladas de cocaína no Brasil, na Europa e na África, além de R$ 3,5 milhões.
Fonte: O globo RJ
Texto: Rafael Nascimento de Souza
0 Comentários